quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Altbier x Kolsch - Guerra sem fim


Düsseldorf e Colônia, as duas principais cidades do noroeste da Alemanha, vivem uma intensa e divertida rivalidade que começa pela cerveja -assunto seríssimo para os alemães. Os moradores de uma Düsseldorf industrial e sofisticada chamam de "líquido ralo e sem graça" a cerveja "kölsch", típica de Colônia. Já os habitantes da cidade rival, mais turística e casual, xingam a cerveja "alt", orgulho da rival, de "remedinho horrível", por seu gosto mais amargo e cor escura. Durma-se com um colarinho apertado desses. Que, aliás, fica apenas por cima de uma polêmica que engloba aspectos como estilo e qualidade de vida, poder econômico, atrações turísticas e até futebol. Do lado mais acima do rio Reno, atual capital política da Renânia do Norte-Westfalia e principal centro da moda na Alemanha, Düsseldorf se orgulha da Königsalle, uma espécie de Champs Elysées com pragmatismo alemão: um quilômetro com suntuosas sedes de bancos de um lado e butiques de grifes renomadas do outro, cortado ao meio por um canal, árvores, jardins repletos de flores e ciclovias. Um pouco mais ao sul, à margem do mesmo rio, Colônia, a antiga capital do Estado, aposta na sua grande catedral e se produz, perfumada com a tradicional água de cheiro que leva seu nome, para atrair visitantes que lhe geram renda. Tão perto, tão longe Se Düsseldorf tem um jeitão mais São Paulo de ser, o estilo de Colônia é bem carioca. Entre as duas, a doce rivalidade faz parecer bem maior a distância de pouco mais de 40 km vencidos rapidamente pela autobahn (auto-estrada) ou por trens velozes. Enquanto o morador de Düsseldorf, mais formal, costuma usar terno até para comer pizza -ou salsicha- no domingo à noite, o de Colônia prefere um estilo bem mais relax, que não chega ao exagero de bermudas ou jeans. Uma é mais executiva, por conta de suas indústrias e bancos. A outra, mais universitária, com estudantes predominando na fauna local. Em um único local a rivalidade Düsseldorf-Colônia arrefece um pouco. É na Altstadt (Cidade Velha) da primeira, que concentra, em cerca de 500 m2, mais de 200 restaurantes, cervejarias e bares, numa seqüência conhecida como "o maior balcão" do mundo. Vem gente até de Colônia beber sua "kölsh" ("argh!" para os locais) e gastar horas em torno de copos e mais copos, debatendo com energia as diferenças. Se está mesmo provado que só é possível filosofar em alemão, como diz a música, a culpa só pode ser da cerveja. Por natureza, criação ou vocação, diz o lugar-comum, os alemães são sérios, tensos, rigorosos e meticulosos; através da "loura", servida nem tão gelada assim, eles soltam seu lado mais expansivo, generoso, alegre e falante. Aliás, diga-se, como falam quando bebem! Parece que discutem sempre. O idioma, ao que parece, convida. É nas mesas de bar -ou melhor, das cervejarias- que a polêmica entre as duas cidades atinge seu tom mais alto. Nem as salsichas, seus diversos tipos, qualidades, calibres e tamanhos escapam das ditas comparações. A gastronomia, que na Alemanha combina muita carne suína, batatas e chucrute, além de tortas e doces servidos com fartas porções de creme chantili, não é lá muito light. Embora aqui caiba uma dica que faria a cabeça do gaulês Obelix: nas cervejarias e restaurantes da Cidade Velha em Düsseldorf, vale a pena pedir um eisbein (ou joelho de porco) assado que, acompanhado da "alt bier" e de uma mostarda que dói no cérebro de tão forte, é de se comer -literalmente- chorando. Bem diferente do eisbein gorduroso normalmente servido nos restaurantes alemães no Brasil. Visitei Colônia e Düsseldorf em 2005 e senti um pouco da rivalidade, obviamente as duas são cervejas ótimas e bem diferentes.
Fonte: UOL Turismo
Ilustração: Gentilmente cedida por cervezauy - Cerveceros de Uruguay
Atualizado: Segue abaixo comentário do post feito pelo Homebrew Leonardo Sewald Cunha:
Vi que tu falou das mostardas. Na verdade, Düsseldorf também leva esse assunto muito à sério, sendo a cidade considerada o paraíso das mostardas. Eles produzem diversos tipos. Tem uma loja lá na altstadt onde tu encontra todas elas para degustação, e preciso dizer que são todas excelentes, quem gosta sente vontade de comprar todas, eheheh. O joelho de porco é preparado de duas formas distintas, recebendo dois nomes diferentes. O Eisbein é o joelho de porco preparado à moda berlinense, ou seja, cozido/fervido em água com temperos diversos. Já no sul da Alemanha, além de cozinhar, eles costumam assar a peça em fogo alto (às vezes hidratando-a com um pouco de cerveja), para transformar aquela camada grossa de gordura em uma pururuca, quase um torresmo. Esse é o Schweinshaxe, que na Oktoberfest é vendido aos montes, e alguns alemães o consomem quase que como uma coxinha de galinha, pegando com a mão e segurando no osso mesmo. Para os que quiserem se aventurar a preparar um joelho de porco, a minha dica é a seguinte: pro Eisbein, além dos acompanhamentos tradicionais, preparar um molho vermelho picante pra servir por cima; pro Schweinshaxe, faça uma cama de rodelas de cebola crua (não economize) numa forma, coloque o joelho de porco com algumas tiras de bacon por cima, esqueça o regime, regue com uma cerveja (aproveitando pra tomar uma, é claro) e leve ao forno. Ah, e chame os amigos pra comer, porque o corte do joelho do porco aqui no Brasil é umas três vezes maior do que lá fora!
grande abraço,
Sewald

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